segunda-feira, 12 de setembro de 2011

ARTIGO: Dos modismos pedagógicos: as práticas em alfabetização na sociedade de consumidores

Patrícia Camini

Discuti neste espaço que, mais do que procurar comprar novos métodos e práticas em alfabetização, há uma série de discursos que produzem e organizam a sociedade para uma certa compulsão pelo consumo de novas marcas identitárias que os docentes intentam possuir para sentirem-se mais atuais e menos “tradicionais”, palavra esta que no meio educacional freqüentemente é associada a atraso. Ser visto como um professor tradicional, sem dúvida, é o que poucos desejariam. E em meio a tantos modismos pedagógicos que, tal
qual uma roupa, logo caem em desuso, fica um questionamento: com que outras questões estaríamos deixando de nos preocupar por estarmos tão ocupados em saber qual método é o melhor, o mais eficaz?
Interessa-me aqui assinalar, finalizando esta discussão, que mais do que uma prática econômica, o consumo é uma prática de significação (ROCHA, 2006). Ele possui um ethos terapêutico (BAUMAN, 2008), nos fazendo acreditar que, através do consumo de determinados produtos, estaremos melhorando, por exemplo, as nossas práticas docentes em alfabetização e, conseqüentemente, nos narrando como professores melhores. Ou seja: consumindo um novo método, se estaria fazendo um investimento em si mesmo, já que “os membros da sociedade de consumidores são eles próprios mercadorias de consumo” (ibid., p. 76), e, para se colocar no mercado de alfabetizadores, seja para ser admitido em escolas privadas ou para responder a questões de concursos públicos, esses professores devem, no mínimo, de alguma forma consumir o que determinada época produz como sendo o mais avançado em termos de métodos de alfabetização. E esta é a ambigüidade da sociedade de consumo: enquanto consumimos, também somos consumidos (ibid.).
O que estaremos, então, fazendo da alfabetização em tempos em que a sociedade se organiza centralmente em torno do consumo? O apelo para que os professores troquem suas práticas pedagógicas por uma supostamente mais atual e moderna pode ser encontrado em qualquer esquina, onde facilmente encontramos bancas com uma série de revistas destinadas a vender atividades de letramento, por exemplo, filiadas a um discurso bastante em voga na literatura acadêmica que versa sobre alfabetização na atualidade. Mas o que se
passa nos interstícios dessa comercialização de métodos é o que também devemos estar atentos.

Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/095/95camini.htm

Um comentário:

  1. Bom para refletirmos um pouco mais criticamente sobre ideias tão fortemente impregnadas nos discursos pedagógicos atuais! Afinal, não é porque algo é "moderno" que é bom...

    ResponderExcluir